sábado, 7 de fevereiro de 2009

Dom Helder Câmara: homenagens ao “Profeta da Paz” no centenário de seu nascimento

“Uma das grandes personalidades do século XX, homem de Deus, que tinha uma visão singular sobre o povo pobre brasileiro”. É assim que o arcebispo de Manaus (AM) e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luiz Soares Vieira define dom Helder Câmara, que faria cem anos no dia ontem, 7 de fevereiro, se estivesse vivo. O arcebispo faleceu em 27 de agosto de 1999.

“Eu o conheci em 1984, quando me tornei bispo. Dom Helder era um profeta que falava empolgadamente, não dizia palavras de um intelectual, mas você percebia que era algo profundo, de alguém que tinha intimidade com Deus”, conta emocionado o arcebispo de Manaus. “Lembro-me de quando ele se hospedava em minha casa, por volta de 4h da manhã lá estava ele fazendo suas orações. Foi realmente um homem de oração, austero, de uma intelectualidade muito profunda”, sublinha dom Luiz.

O arcebispo de Manaus fala de dom Helder emocionado e relata que, quando vivo, o arcebispo de Olinda e Recife (PE) sempre foi um homem de coragem e de convicções fortes que “enfrentou e apontou caminhos para o Brasil”. Se perguntado sobre uma frase que resumiria dom Helder, logo o vice-presidente da CNBB responde: “Um profeta, homem que viu o mundo com os olhos de Deus”.

Para o arcebispo de Manaus, dom Helder realizou três grandes projetos na Igreja, “Ele foi totalmente comprometido com a Igreja, a serviço do povo pobre; da colegialidade episcopal, pois foi ele quem fundou a CNBB; e com o seu profetismo”. Dom Luiz, ao falar sobre o “Profeta da Paz”, como ficou conhecido dom Helder Câmara por seus trabalhos a serviço da justiça e de causas sociais, afirma que não o conheceu em seu “vigor de seu trabalho pastoral”, embora tenha conhecido um homem que tinha a essência de Deus na maturidade.

Apesar de dom Helder ter sido um bispo bastante querido no Brasil e no exterior, dom Luiz revela que havia pessoas que não aceitavam suas ideias: “Eu conheci pessoas extremamente contrárias a dom Helder e seus ideais. Elas não suportavam as ideias dele, mas, quando o conheciam pessoalmente se encantavam com seu modo de falar, seu carisma e até paravam para ouvi-lo. Creio que isso ocorria porque ele tinha uma fé profunda, que vinha do coração”. O arcebispo destaca ainda que “dom Helder é um modelo que a história da humanidade precisa conservar. Sua história e sua memória fazem ponte com a história do Brasil”.

Questionado sobre os trabalhos que dom Helder mais se preocupou em desenvolver, dom Luiz não hesita em dizer: “Seus escritos são espetaculares; sua eloquência é fabulosa, foi um homem de muita fé que vinha de uma espiritualidade que preservava um amor a Deus e ao próximo. Enfim, ele foi alguém que acreditou numa causa e lutou por ela até o fim”.

Comemorações

Hoje, a Câmara dos Deputados realiza sessão solene em homenagem ao centenário de nascimento de dom Helder Câmara, no plenário Ulisses Guimarães, às 15h. Ainda hoje, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, preside missa solene em Recife (PE). A missa acontece às 16h, em frente à Igreja das Fronteiras, e será concelebrada por dezenas de bispos e padres, com a presença de fiéis.

Os Correios lançarão um selo que homenageia o centenário do arcebispo. O estampilho foi criado pela artista, Silvania Branco, por meio de um concurso dos Correios, ela venceu ao retratar a imagem do bispo, a silhueta da Igreja das Fronteiras ao fundo e dos pobres que sempre estavam por ali esperando a palavra e a ajuda do “bispo da justiça”.

As igrejas de Olinda e Recife tocarão seus sinos às 6h, 12h e 18h para homenagear dom Helder, e logo após a missa, será inaugurada no pátio das fronteiras, uma escultura do bispo.

Os eventos do centenário são organizados pelo Regional Nordeste 2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco) da CNBB, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto Dom Helder Câmara (IDHEC), Governo do estado e Prefeitura do Recife, além de outras entidades.

Países como Alemanha, França e Canadá também prestam suas homenagens ao centenário de dom Helder. Na Alemanha, os tributos são coordenados pela Adveniat; na França, quem assume a organização é a Associação Dom Helder – Memória e Atualidade. No Canadá, por sua vez, o clero local é o responsável pelas homenagens.

Biografia

Décimo-primeiro filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, maçom, jornalista, crítico teatral e funcionário de uma firma comercial e da professora primária Adelaide Pessoa Câmara, desde cedo manifestou sua vocação para o sacerdócio.

Ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza em 1923. Foi ordenado padre no dia 15 de agosto de 1931, em Fortaleza, aos 22 anos de idade, com autorização especial da Santa Sé, por não possuir a idade mínima exigida. No mesmo ano, fundou a Legião Cearense do Trabalho e em 1933, a Sindicalização Operária Feminina Católica, que congregava as lavadeiras, passadeiras e empregadas domésticas. Atuou na área da educação, participando de políticas governamentais do estado do Ceará na área da educação pública.

Em 1936 foi para a cidade do Rio de Janeiro, dedicando-se a atividades apostólicas. Foi Diretor Técnico do Ensino da Religião.

Foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952. Foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de 1952, pelas mãos de Dom Jaime Cardeal de Barros Câmara, Dom Rosalvo Costa Rego, Dom Jorge Marcos de Oliveira. Fortaleceu a nascente Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e participou da criação do Conselho Episcopal Latino-Americano. Foi um grande promotor do colegiado dos bispos e da renovação da Igreja Católica, fortalecendo a dimensão do compromisso social.

Em 1956, fundou a Cruzada São Sebastião, com a finalidade de dar moradia decente aos favelados. Desta primeira iniciativa, outros conjuntos habitacionais surgiram. Em 59, fundou o Banco da Providência, cuja atuação se desenvolve no atendimento a pessoas que vivem em condições miseráveis.

Teve participação ativa no Concílio Ecumênico Vaticano II, sendo um dos propositores e signatários do Pacto das Catacumbas, um documento assinado por cerca de 40 padres conciliares no dia 16 de novembro de 1965, nas catacumbas de Domitila, em Roma, durante o Concílio Vaticano II, depois de celebrarem juntos a Eucaristia. Este pacto teve forte influência na Teologia da Libertação.

No dia 12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife, Pernambuco, múnus que exerceu até 2 de abril de 1985. Instituiu um governo colegiado nesta diocese, organizada em setores pastorais. Criou o Movimento Encontro de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz daquela diocese. Forteleceu as comunidades eclesiais de base.

Estabeleceu uma clara resistência ao regime militar. Tornou-se líder contra o autoritarismo e pelos direitos humanos. Pregava no Brasil e no exterior uma fé cristã comprometida com os anseios dos empobrecidos. Foi perseguido pelos militares por sua atuação social e política, sendo acusado de comunismo. Foi-lhe negado o acesso aos meios de comunicação social durante o governo militar. Apesar disto, foi um grande orador, tornando-se conhecido sobretudo no exterior, onde divulgou amplamente suas idéias.

Em fevereiro de 2008 foi encaminhado à Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, o pedido de beatificação de D. Hélder pela Comissão Nacional de Presbíteros (CNP), vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Regional Nordeste 2 da CNBB, a arquidiocese de Olinda e Recife, o Instituto Dom Hélder Câmara (IDHeC) e a Universidade Católica de Pernambuco estão promovendo a comemoração do centenário de Dom Hélder, a ser celebrado em 7 de fevereiro de 2009. O objetivo é manter viva a sua memória e a sua luta pela solidariedade e justiça social.

Títulos

Seu primeiro título veio em 1969, de doutor honoris causa pela Universidade de Saint Louis, Estados Unidos. Este mesmo título foi-lhe conferido por diversas universidades brasileiras e estrangeiras: Bélgica, da Suíça, Alemanha. Holanda, Itália, Canadá e Estados Unidos.

Foi intitulado Cidadão Honorário de 28 cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau na Suiça e Rocamadour, na França.

Recebeu o Prêmio Martin Luther King, nos EUA e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega e diversos outros prêmios internacionais. Foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.

Instituto Dom Hélder Câmara

O acervo histórico de Dom Hélder é mantido pelo Instituto Dom Hélder Câmara, em Recife.

Fonte: CNBB com hl.com

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